Entre três artistas

Não se vê nada além de um vazio quando se procura um ponto em comum entre as obras das brasileiras Cristina Salgado e Regina de Paula, que vivem no Rio de Janeiro, e da catalã Encarna Romero. Apesar da longa amizade entre as duas primeiras, seus trabalhos vão por caminhos muito diferentes com linguagens e temas que não têm nada a ver entre si: Regina utiliza vários suportes e, algumas vezes, desenhos investigando espaços físicos, enquanto Cristina, em seu percurso entre o tri e o bidimensional, lida com várias questões ao redor do corpo. Entre as obras em papel de Cristina e as imagens de Encarna, quase se poderia construir uma aproximação. Quase. Na verdade, as obras destas três artistas são tão diferentes entre si que se apresentam como exposições independentes em um mesmo evento. Entre elas, se tropeça em um vazio.

No entanto, assim que as reunimos sobre o mesmo teto, nos demos conta de que está justo no vazio uma possibilidade de encontrar uma conexão entre elas:

Regina se dedica a investigar a cidade e suas paisagens desde sua passagem pela Columbia University, em Nova Iorque, no início dos anos 90. Se dedica com especial interesse ao que chama “lugares não habitáveis”. E é justamente a ausência que se constitui, na maioria das vezes,  o eixo das imagens que produz a partir destes lugares. São espaços de passagem ou inadequados para o ser humano e seus projetos, como mostra em um dos vídeos nesta exposição.

A base das obras bidimensionais de Cristina são desenhos transformados em carimbos. Repetidas e sobrepostas, as figuras esvaziadas de uma mulher sentada e de um cavaleiro e seu cavalo preenchem a superfície do suporte até transbordar, rompendo seus limites. Ao vazio do papel e das paredes da galeria, Cristina soma o contorno de suas figuras ocas. Na única peça tridimensional que traz a Paradigmas, a artista recorre uma vez mais a um vazio, fazendo um oco nas “costas” de sua abstrata Moça Nua Sentada, para permitir-nos um acesso ao seu interior.

Encarna, em uma narrativa mais pessoal, trata diretamente da ausência em sua série de serigrafias. O esvaziar é a própria narrativa que nos conduz de um extremo ao outro de suas imagens sequenciadas. Impressas sobre a transparência e delicadeza do papel de arroz, elas apresentam passo a passo o desaparecer de personagens e a própria história da artista. A fragilidade do suporte dá corpo às ausências que nos conta Encarna.

Ao reunir as mostras Tratado elementar de arquitetura: Vignola / SSCC de Regina de Paula, Tremores e Permutações de Cristina Salgado e Autorretrato -Regressões I de Encarna Romero, PARADIGMAS convidou os curadores Glòria Fernandez e Victor Ramírez para tentar encontrar léxicos entre as obras das três artistas. Em resposta, juntos se dispuseram a construir um mapa que nos ajudará a todos a encontrar outros “tropeços” no percurso entre estas três poéticas.

Encontro com as artistas e curadores: 6 de março, às 19:30h.
Exposição: De 6 de março a 5 de maio de 2012.
C/ Francisco Giner, 45. Barcelona.
De segunda a sexta, de 16h às 20h30. Sábados, de 17h às 21h.